DPU ajuíza ação após óbitos por possível falta de insumos em hospitais de Teresina

Conforme a defensoria, uma inspeção foi realizada no HUT no início deste ano que serviu para instruir o processo e terminou com o ajuizamento da ação civil pública. Segundo o defensor Rômulo Plácido a ação foi estabelecida sob pena de multa pessoal para os gestores responsáveis.

DPU ajuíza ação após óbitos por possível falta de insumos em hospitais de Teresina
Óbitos por falta de insumos da FMS levam Defensoria Pública da União a abrir ação civil pública — Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

A Defensoria Pública da União (DPU) ajuizou nesta segunda-feira (29), uma ação civil pública contra a Prefeitura de Teresina por falta de medicamentos, insumos, atendimentos e estrutura precária no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Essa ação movida pelo defensor público Rômulo Plácido se baseou em casos de pessoas que vieram a óbito possivelmente devido à crise na saúde da capital.

"Já houve casos que a defensoria atendeu e essas pessoas vieram a óbito porque não houve o devido atendimento, não houve a cirurgia, não houve o procedimento de urgência que precisava ser feito. Essas pessoas ficaram nas filas e não tiveram esse atendimento", explicou o defensor.

Conforme a defensoria, uma inspeção foi realizada no HUT no inicio deste ano que serviu para instruir o processo e terminou com o ajuizamento da ação civil pública. Segundo o defensor Rômulo Plácido a ação foi estabelecida sob pena de multa pessoal para os gestores responsáveis.

"Eu coloquei no polo passivo dessa ação civil pública a União, para que eles exerçam o papel de fiscalizar, porque são os recursos públicos que são empregados. Dessa ação civil pública também vai participar o Ministério Público Federal, já que são recursos do Sistema Único de Saúde. Poderão ser adotadas as providências se verificar os ilícitos, tanto civis quanto penais, pode surgir a partir daí, ações de improbidade e ação penal aos gestores, se for constatado que há dolo na má aplicação dos recursos", afirmou o defensor público da União.

Sobre a instauração a ação civil pública, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou à TV Clube que responderá no processo quando for notificada.

O secretário municipal de governo da Prefeitura de Teresina, Michel Saldanha, disse que a prefeitura já gasta hoje 35% do orçamento só com o setor da saúde. E cobrou também auxílio, inclusive financeiro, tanto do Estado como da União nesse apoio ao município.

"É necessário que haja uma correção nos valores referente à tabela SUS. A partir do momento em que o Estado demora no investimento em hospitais que tenham a mesma estrutura do HUT, por exemplo, isso reflete basicamente na vinda cada vez maior de pacientes do interior para a capital. Mas o que nós temos visto é que existe um trabalho muito forte na aquisição de ambulâncias, então é preciso que a efetividade da atuação desses hospitais regionais seja maior", disse o secretário.

O promotor de Justiça Eny Marcos Vieira Pontes, da 29ª Promotoria de Justiça de Teresina, do Ministério Público do Piauí (MPPI), apontou como principal fator para a crise na saúde a má gestão de recursos financeiros.

Má gestão financeira, diz MP

Em março deste ano foi realizada pelo MPPI uma audiência pública para debater a crise da saúde de Teresina, sob responsabilidade da FMS. Segundo o promotor, os recursos foram mal geridos. Ele destacou que o Ministério Público e outros órgãos, como o Tribunal de Contas do Piauí (TCE-PI) e a Controladoria do Estado, estão fazendo o acompanhamento do caso.

“Como promotor da saúde que tem acompanhado a saúde não só do município, mas a saúde do Estado, essa crise decorre muito da parte financeira, ou seja, faltou dinheiro. Faltou dinheiro para pagamento de fornecedores. Qual é o fornecedor, qual é a empresa que vai continuar fornecendo sem receber o que é devido?", questionou.

Ele completou: "Consequentemente, falta assistência final, falta o medicamento. Mas, isso não quer dizer que não exista dinheiro. Na minha concepção, o dinheiro ele tem que ser bem gerido, o que pode ter acontecido foi isso, má gerenciamento dos recursos recebidos”, disse Eny Pontes.

Estoque de medicamento
Quanto à falta de medicamentos e a suposta morte de um paciente pela falta de um antibiótico, o presidente da Fundação Municipal de Saúde, Italo Costa, afirmou que estão sendo feitos esforços para reabastecer o estoque diariamente não só do Hospital de Urgência de Teresina, mas de toda a rede hospitalar e Unidades Básicas. Além disso, há uma sindicância em andamento para investigar a morte do paciente.

“Nós não podemos relacionar nexo de causalidade com óbito do paciente com a falta de medicamentos porque há uma sindicância aberta para investigação e apuração das responsabilidades e do que houve, mas provavelmente decorrer do curso natural da uma doença muito grave, o paciente também era muito muito grave, já tinha insuficiência renal aguda, outras comorbidades que dificultaram a evolução da doença”, declarou.
Apesar de não ter estoque completo, de acordo com o presidente da FMS, os medicamentos mais importantes, e que foram alvo das fiscalizações, já estão restabelecidos.

Pagamento de contas

Como providências já tomadas, Italo Costa destaca que já foi feito o pagamento de várias contas, repactuações de débitos e a retomada de os serviços que estavam paralisados por falta desses pagamentos.

"Hoje, na Fundação Municipal de Saúde, todos os serviços de manutenção predial, de manutenção dos ar-condicionado, as empresas de manutenção que fazem o suporte de apoio a infraestrutura de tecnologia da informação, que são os computadores, as impressoras, foram regularizados junto a Fundação Municipal de Saúde”, declarou.

Ele destacou que o problema não é apenas a falta de recursos públicos, mas sim um acúmulo de anos de custos na saúde pública, e ressaltou a necessidade de cooperação dos demais entes para garantir a sustentabilidade financeira da instituição.
"O que nós vivemos hoje é fruto de vários anos, é um acúmulo de vários custos na saúde pública, principalmente municipal, com absorção de muitos pacientes não só da capital, mas do interior e de outros estados corrobora para que o custo seja maior que a receita", concluiu.
Crise na saúde
Os relatos de problemas de infraestrutura e falta de medicamentos e insumos nos hospitais de Teresina, na gestão do prefeito Dr. Pessoa, acontecem desde 2022, cerca de um ano após a posse do gestor.
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A Câmara de Teresina , o Ministério Público e o Tribunal de Justiça estiveram envolvidos em investigações e determinações contra a Prefeitura de Teresina e a Fundação Municipal de Saúde. Mais recentemente, o HUT, maior hospital de urgência do Piauí passou a sofrer com a crise na gestão da saúde.

Fonte: G1 PI